segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ironizando ao redor do Plano Tecnológico de Educação

Hoje pensa-se que com os computadores e estas coisas electrónicas e tecnológicas se aprende. Continuo a ensinar como aprendi: com o quadro, com o manual e com o caderno deles. Então para que preciso agora deste plano tecnológico que nos quer dar quadros que não usam giz e computadores em abundância ligados à Internet!?
Fui à Internet e li o Plano Tecnológico da Educação. Estava numa página agradável, com uma cor bonita e onde se encontram as coisas que se querem ler muito depressa. Uma delas não funcionou bem e deu erro, mas o Plano consegui lê-lo!
Fiquei logo com a sensação de que em vez de gastarem tanto dinheiro a equipar as escolas desta maneira deviam preocupar-se primeiro em colocar pessoal auxiliar, que não existe na quantidade suficiente para fazer funcionar a escola, comprar papel higiénico, sabonete e toalhetes para as casas de banho, mas também toner e papel para a fotocopiadora (também tem a ver com tecnologia, por isso podia ser contemplado).
Mas o aparecimento deste Plano leva a que os alunos possam ter uma avaliação electrónica escolar! Como será tal possível?! Fazer testes em computadores? Isso seria um apelo ao copianço descarado pois os alunos arranjariam sempre maneira de ir à Internet ou ao disco do computador buscar a resposta que lhes faltava no momento.
Outro aspecto negativo tem a ver com o lançar deste Plano apenas para o 2º/3º Ciclos e secundária deixando para trás o ciclo de entrada na escola que hoje até tem o “Magalhães” para oferecer aos mais pequenos e cujos professores são incentivados a utilizá-lo em sala de aula.
E há ainda aquela ideia de 1 quadro interactivo por cada 3 salas! Ainda bem! Sempre se fica com umas salas à moda antiga para poder trabalhar e também irão faltar quadros novos para os das modernices.
Do que li no sítio da Internet (sim porque para mim aquilo é um sítio e não um “site”) achei umas ideias interessantes, ou melhor, coisas positivas mesmo:
A primeira é a do cartão! Com ele controlam-se as entradas e as saídas, o dinheiro que os miúdos gastam mal gasto e deve-se sempre saber o que fizeram, o que é muito útil para nós todos. O cartão, em conjunto com a plataforma integrada de gestão escolar vai permitir aos Pais saberem as faltas e as notas dos filhos pois talvez assim, já que não aparecem para falar com o Director de Turma possam ficar a par do percurso dos alunos.
Outro aspecto interessante é o da vídeo-vigilância, mas nos corredores e talvez nalgumas salas com algumas turmas, para se poder ver o que fazem os alunos pelos corredores e em certas aulas onde se lhes dá mais liberdade pedagógica.
Positivo é também o portefólio digital, mas mais para eles que para os professores que não entendem bem os computadores, pois deixam de andar carregados com dossiers enormes cheios de folhas soltas.

Sobre Currículo

“Curriculum” é o étimo de currículo que, diz o autor do texto, em latim significa “pista de corrida”.
Partindo desta etimologia poderemos dizer que currículo era o caminho que o atleta percorria até atingir o seu objectivo final – a meta.
Que será então o currículo senão a definição da “pista” onde o aprendente se coloca e percorre para atingir o objectivo final por ele ou outros, determinado previamente.
Não se pode assim encontrar uma definição exacta de currículo, mas sim de uma multiplicidade dependendo do fim a atingir.
Se assumimos que na escola o currículo é definido pelo poder governamental que traça o “percurso” dos alunos de acordo com as suas ideologias e as necessidades socioeconómicas do país, outros currículos há que podem apenas depender da vontade de cada um em atingir uma meta final.
Hoje a escola continua a assentar num modelo que prepara para o mundo do trabalho, ainda que já nem tanto para a fábrica, modelo que se pode considerar em falência, mas se preocupa em preparar desde já para um mundo onde o emprego para a vida não é uma constante e a procura de novas ocupações se concretiza a cada passo, prevalecendo um modelo de currículo muito à moda de Bobbitt.
O poder é assim um dos “modeladores” do currículo, a par é certo com a vontade de cada um em querer atingir o seu objectivo final, o que origina muitas vezes uma discussão interna pois o currículo escolar colide com o currículo próprio de cada um. Claro que uma e outra forma obedecem à pergunta “o que devo eu saber quando acabar a escola ou quando me tornar alguém?”
Currículo é muito mais que um mero conjunto de aprendizagens que se julga necessárias. A intenção e a sequencialidade a par de um objectivo final.
Currículo é assim uma palavra de mil caras pois é através dele que nos transformamos e aprendemos (muitas vezes até o que não queremos ou mesmo aquilo que necessitamos independentemente do nosso centro de interesses). Assim, como refere Roldão (1999) “currículo é um conceito passível de múltiplas interpretações”.
Por vezes aprendemos até sem nos dar conta que seguimos um currículo por não o conhecermos formalmente. É o chamado currículo oculto, necessário no percurso que trilhamos e que é próprio da natureza humana.Com ele convivemos no dia-a-dia e permite-nos adquirir conhecimentos que muitas vezes pensamos não serem necessários à nossa evolução.